sexta-feira, 6 de março de 2015

Jogos de imitação

A superprodução ‘O jogo da imitação’, que ganhou o Oscar 2015de melhor roteiro adaptado, trata do trabalho do cientista britânico Alan Turing
 
na decodificação dos códigos alemães  usados durante a Segunda Guerra Mundial. 
(Foto: Divulgação)

Físico brasileiro comenta filme recém-premiado sobre a história de Alan Turing, pai da computação, e dos esforços britânicos para decifrar códigos nazistas na Segunda Guerra. Ele critica a representação deturpada do personagem e do caráter colaborativo da ciência.

Por: Marco Moriconi (Instituto de Física - UFF)

Ao se fazer um filme, é inevitável que a realidade seja deformada, um pouco que seja, para parecer ‘mais real’: policiais são mais altos e fortes, carros mais lustrosos, explosões mais impressionantes. E cientistas não fogem à regra. Cientistas reais não pareceriam cientistas em um filme, pelo menos de acordo com a mentalidade de grandes produções, assim como as vacas não parecem vacas nos filmes rodados em Springfield. Aparentemente, um cientista cinematográfico tem que ser mais próximo de uma máquina do que de um ser humano, deve ser atormentado e, por mais absurdo que pareça, não deve ter senso de humor.

A superprodução O jogo da imitação, baseada – talvez seja mais apropriado dizer ‘inspirada’ – no livro Enigma (Princeton University Press), de Andrew Hodges, trata de um dos cientistas mais intrigantes do século 20, o britânico Alan Mathinson Turing (1912-1954), matemático, criptógrafo, pai da ciência da computação e um dos pioneiros da biologia matemática. Dono de um brilhante e variado trabalho científico, Turing era homossexual em uma época em que isso era considerado crime na Inglaterra. (Clique aqui para acessar uma biografia resumida de Turing, escrita pelo próprio Hodges.)

Como entretenimento, sem dúvida O jogo prende a atenção, emociona e empolga, vale o ingresso. O problema é que ‘ao pintar’ Turing e Bletchley Park, o filme entrega uma versão empalidecida da realidade. Aliás, a opção de A. Hodges, autor da biografia Enigma (sem tradução para o português), por não comentar o filme é significativa.



Fonte: Ciência Hoje On-line