sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

De amores e de mulheres também é feita a Matemática...


Por: Marcio Luis Ferreira Nascimento*

Quase não é dito nas escolas, e pode até não parecer, mas a Matemática tem uma história. Uma das mais belas (existem outras, decerto, a serem contadas em futuras oportunidades) se deve a uma mulher, de nome Sophie. Seu nome completo era Marie-Sophie Germain. Através dos séculos as mulheres têm sido desencorajadas a estudar, inclusive matemática. Apesar das dificuldades (que infelizmente ainda existem...), houve diversas mulheres que se sobressaíram em suas atividades, seja nas artes, no campo das humanidades, das ciências e mesmo na política. No caso específico de Sophie daria até para escrever uma novela, sem dúvida, de amores, sofrimentos e sonhos.

Sophie nasceu em 1776, filha de um negociante não muito rico, tão pouco aristocrata, mas influente. Nesta época a matemática estava completamente vedada às mulheres (inclusive a entrada em universidades); mas como o assunto poderia surgir em um evento social, as mulheres tinham que ser treinadas para poder falar sobre este e outros temas: para não fazer vergonha frente aos homens cultos, prováveis e/ou futuros maridos.

Sophie se encantou pela matemática ao ler, ainda jovem, no livro L’Histoire des Mathématiques (“História da Matemática”) do francês Jean-Étienne Montucla (1725-1799), um texto sobre a vida do célebre matemático Arquimedes de Siracusa (cerca 287 a.C. – cerca 212 a.C.), cuja história é pouco conhecida: inclusive da sua morte quando da invasão de um general romano à sua cidade natal, fato que deve ter marcado a jovem Sophie. Pensou que se algo era tão absorvente e inebriante deveria valer a pena estudar. Ela começou e, muito em breve, estava lendo textos de matemáticos do porte do suíço Leonhard Euler (1707-1783) e do inglês Isaac Newton (1642-1727), escondida. Quando o pai dela descobriu, passou-lhe uma bronca, para que ela deixasse de estudar matemática: “- Onde já se viu”? Passou a estudar à noite, após esperar todos dormirem, e ser a única da casa a ler, entre velas, livros e artigos de matemática.


*********************************************************
Fonte: Tribuna da Bahia

*Professor da Universidade Federal da Bahia - UFBA