sexta-feira, 10 de junho de 2011

Poesia Matemática


Neste 12 de junho, data em que se comemora o dia dos namorados, pensamos em oferecer aos nossos leitores algo diferente... Então, surgiu a ideia de tentar juntar assuntos das áreas temáticas do Blog com uma abordagem cultural e poética. Assim, depois de várias incursões pelo mundo virtual, descobrimos esta pérola do nosso grande escritor, desenhista e cronista Millôr Fernandes que caiu como uma luva para o nosso objetivo. Confiram abaixo e tirem suas próprias conclusões! Feliz Dia dos(as) Namorados(os)

Poesia Matemática

Às folhas tantas do livro matemático
um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do ápice à base uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida paralela à dela até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram (o que em aritmética corresponde
a almas irmãs) primos entre si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar, constituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.
Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.
Foi então que surgiu O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos, viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração, a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser moralidade
como aliás em qualquer sociedade. 

Postado pela Equipe do Blog